It's like a movie screen
Minha mãe adora contar que viu Evil Dead quando estava grávida de mim. O primeiro filme que vi no cinema foi Lua de Cristal, sentada no chão, porque venderam mais entradas do que deviam (minha mãe que conta, eu obviamente não lembro). Inclusive, eu amo cinema por causa da minha mãe. Toda sexta-feira ela alugava um monte de VHS e assim passávamos o fim de semana. Ela também tinha um caderno em que ela anotava os filmes vistos. Eu tenho um caderno fofo do Vincent Price no qual eu anoto todos os filmes vistos desde 2010. Também tenho um caderno roxo, em formato de VHS (presente da Jana) no qual colo meus ingressos de cinema.
Eu cresci vendo filmes dublados, cortados, com comerciais e em horários em que eu devia estar dormindo. Eu alugava VHS e morria de medo das fitas se enroscarem no aparelho e eu ter que pagar. Eu namorei um cara cujo padrasto tinha uma sala cheia de filmes. Depois namorei outro cara que morava do lado de uma locadora maravilhosa, que tinha filmes como Geração Prozac que eu não encontrava na da minha rua.
Eu ia quase toda quarta-feira no cinema com as minhas amigas da escola. O cinema era barato. Numa dessas eu vi aquela bomba chamada A Reconquista. Minhas amigas dormiram, cada uma num ombro meu. A mãe de uma dessas amigas trabalhou um tempo na locadora da minha rua. Na casa delas que eu vi As Virgens Suicidas, Almas Gêmeas e Cujo.
Donnie Darko, Clube da Luta e Laranja Mecânica, eu também passei pela fase de amar esses filmes. Revi o segundo recentemente e continuo gostando dele. Nessa época eu também era viciada em As Horas, era capaz de ver pelo menos uma vez por semana. Me lembrou um pouco a minha infância obsessiva de ver repetidas vezes A Bela e a Fera, Aladdin, Cinderela e A Pequena Sereia. Fora Labirinto, Agora e Sempre, Jovens Bruxas e Jurassic Park.
As locadoras fecharam e fizeram promoções imensas. Corta para 2007, eu e a Manu descendo a minha rua na chuva, com sacolas recheadas de VHSs detonados. Corta ainda mais, para 2005, quando criamos um fotolog e a ideia era postar um filme por dia. Comecei a acompanhar outros fotologs e blogs de cinema, conheci pessoas incríveis e aprendi muito.
Eu conheci meu diretor preferido pelo orkut de uma amiga. Ela colocava Persona como seu filme preferido. Eu não conhecia, mas fiquei obcecada com aquela capa. Minha vó me deu R$30 de Natal naquele ano. Entrei no Submarino e comprei o DVD. Alguns anos depois a Liv Ullmann veio ao Brasil para relançar seu livro Mutações e autografou meu DVD. Bergman morreu pouco tempo depois que eu comecei a ver seus filmes, e até hoje é maravilhoso ver e rever seus filmes na tela grande. Vi também aquele documentário Liv & Ingmar. Eu comecei a chorar nos créditos iniciais. O mesmo aconteceu quando vi Visages, Villages da Varda. A choradeira começou nos créditos. Mas já falo melhor dela.
Sou apaixonada por John Waters. Tenho revistas com listas de filmes, tento seguir várias, mas sem sucesso. A exposição Kubrick foi uma das coisas mais sensacionais que vi na vida. Amo falar que a Maya Deren inventou o xadrez na praia, não Bergman. Assim como foi a Alice Guy-Blaché a primeira pessoa a fazer um filme ficcional.
Há alguns anos eu fiz um curso sobre a representação do feminino nas artes. Era bem ruim o curso, mas foi por causa dele que conheci Chantal Akerman (que ainda estou conhecendo) e meu amor Agnès Varda (inclusive, ainda terei gatas chamadas Agnès e Chantal). Meu primeiro filme da Varda foi As Praias de Agnès. Eu não estava pronta para aquilo. Nunca estou pronta para seus filmes. Não há diretora mais fofa do que ela. E Vagabond é um dos meus filmes preferidos da vida.
Possessão eu vi pela primeira vez quando estava com dengue, bastante mal. Aquele filme me fez esquecer por um momento a dor que eu sentia, me fez esquecer de tudo ao meu redor. Tive a oportunidade de vê-lo no cinema, ao lado de uma pessoa que eu amo muito, mas que infelizmente não está mais aqui.
Eu o conheci em 2014, na fila do Sesc. Eu estava com uma pessoa, que o conhecia e o chamou para furar fila, ele não quis. Mas acabou sentando ao meu lado. Era o documentário do Nick Cave. Choramos juntos, nos gostamos logo de cara. Ele era uma pessoa que eu não via com frequência, mas sempre nos esbarrávamos nas salas de cinema e eu ganhava aquele abraço apertado cheio de carinho. É uma saudade que não acaba nunca. Moonlight eu também vi num momento de dor física, me contorcendo, mas apaixonada pelas cores, pelos diálogos, pela dor do outro.
Eu vi A Bruxa pela primeira vez na madrugada do dia 30 de outubro para 31. Primeira exibição no Brasil, e eu estava rodeada de amigos. Amei tanto que revi no ano seguinte, em outra sala de cinema. Não gosto de ver filmes duas vezes na tela grande, é caro, mas ele e Hereditário mereceram. Vi esses dias alguém falando no twitter que fã de terror é o povo mais persistente que tem, que a gente vê muito lixo para encontrar coisas boas, e é exatamente isso.
Eu faço maratonas de franquias ruins de terror. Quando jovem, eu aluguei absolutamente todos os filmes de terror da prateleira da locadora. Eu via toda e qualquer porcaria que aparecia, agora sou mais comedida, o tempo é curto, mas espero ansiosamente pelos lançamentos da A24.
Vi A Bruxa de Blair 1 e 2 no cinema, assim como A Rainha dos Condenados. Eu era uma jovem gótica e precisava ver essas coisas no cinema (hoje chamo esse tipo de filme carinhosamente de terror new metal). Nessa época comprei um VHS pirata de Entrevista com o Vampiro. Pouco tempo depois arrumei uma cópia de Ginger Snaps, que aqui saiu como A Possuída. Revi esses tempos e continua maravilhoso.
Eu queria ter dinheiro, tempo e disposição para encarar a Mostra de Cinema de SP (e ir para a do Rio também!). Em 2015 comprei um pacote, eu tinha um bilhete único cheio, lanches na mochila e passava horas no cinema. Foi uma imersão bizarra, mas deliciosa. Eu tinha uma companhia tão apaixonada por cinema quanto eu, e foi bom. Desde então, vejo um filme aqui e ali, e fico desesperada para que certos filmes passem nos cinemas “normais”.
Tento aproveitar as salas de cinema baratas, ver filmes no centro sujo de SP, ou no Centro Cultural, rodeada de jovens que dançam ao som de suas músicas altas. Gosto de camisetas de filmes, gosto de exposições de cinema, gosto de ter DVDs.
Gosto dos filmes de ação do Keanu Reeves e gosto dos filmes iranianos que mostram uma folha caindo. Gosto de ver Comando para Matar seguido de alguma diretora inglesa desconhecida e experimental. Gosto de cinema cabeçudo e gosto das comédias inocentes dos anos 40. Sou fascinada por cinema noir e pela estética dos anos 90. Eu só tenho uma regra: não vejo filmes em que animais foram mortos de verdade. Isso não é arte, e nunca vai ser.
Tenho evitado ver filmes de rape revenge, cansei de ver mulheres sofrendo só para ter um enredo para o filme. Cansei de diretores achando que entendem a alma ~feminina~, mas amo ver filmes de diretoras falando sobre nossos corpos. Amo filmes fofos que tenham gatos, mas não sou muito fã de animações. Eu amo terror, mas acima de tudo Bergman & Varda.
Sempre torci o nariz para remakes, mas gosto do que o Fede Alvarez fez com Evil Dead. Por outro lado odeio o que fizeram com Deixa ela Entrar. O sueco é a única versão possível. O único Suspiria que importa é o do Argento.
Toda sexta-feira 13 eu tento ver filmes de terror. Antes os filmes no CCSP custavam R$1 e a gente ia porque era barato, não importava o filme. E eu tinha ânimo para ir nos Noitões. Agora acho que dormiria nos créditos do primeiro.
Eu vejo filmes na sequência, eu gosto de rever o primeiro quando vai sair o segundo. Eu fazia cursos de cinema com uma amiga, anotava tudo e tentava ver o máximo possível. E também sempre perguntava "E as diretoras desse período?". Eu passei muitos anos ignorando o cinema brasileiro, e agora conheço coisas incríveis. Eu presto mais atenção na ficha técnica, se há mulheres na produção.
Cinema sempre foi meu refúgio, meu grande amor (ao lado da literatura). Amo o fato de ter amigos que podem sentar comigo na mesa do bar e passar quatro horas falando de filmes.
Meu primeiro DVD foi Cães de Aluguel e hoje em dia nem acho o Tarantino tudo isso.
Esse texto foi originalmente publicado no meu antigo blog em 2018. Modifiquei algumas coisas para repostar aqui, afinal, a vida muda.