Someday she won't have to fake it
![]() |
Annie Ernaux |
Ontem eu terminei de ler o livro da cientologia e fiquei 100% horrorizada. Tenho quase dez livros aqui emprestados de amigos que eu queria ler logo, mas eu também tinha A outra filha (tradução da Marília Garcia), mais recente da Annie Ernaux lançado aqui, no meu kindle. Claro que fui para ele. Mas antes de qualquer coisa, é importante dizer que eu não gosto tanto assim da escrita da Ernaux.
A primeira vez que ouvi falar dela foi há muito tempo, quando Os anos era publicado aqui por outra editora. Fiquei super curiosa com ele, por causa da propaganda que alguns amigos fizeram. Aí veio a notícia de que a Fósforo ia publicar a obra dela e fiquei animada para conhecer. Li primeiro O acontecimento para um clube de leitura e curti, mas não entendi a arrebatação que o povo parecia sentir por causa dele.
Eu gosto do livro, acho muito bem escrito, mas é isso. Passei um tempo sem ler os outros dela, até que peguei tudo para ler de uma tacada só e aí foi só decepção. Achei Os anos chato, O lugar e A vergonha não me despertaram nada. O jovem é ok, e Paixão Simples eu achei um pouco obsessivo demais e eu não gosto de obsessões (risos), pelo menos não nesse sentido. Aí ontem li A outra filha, que novamente, não achei nada demais.
Eu sigo lendo os livros dela, mesmo não curtindo e devoro cada um deles. Será que eu gosto? Eu queria que eles me despertassem emoções profundas. Na vida eu gosto de tudo bem calmo e morninho, mas na literatura e no cinema eu quero sentir coisas. Não sinto nada com ela. E claro, impossível não pensar na escrita da Marguerite Duras, que também teve seu jovem e também escreveu sobre ele.
![]() |
Marguerite Duras |
O jovem da Duras ficou obcecado com ela quando viu India Song, e eu entendo perfeitamente, esse filme é um evento. Ele ficou anos atrás dela, até que ela resolveu corresponder e em pouco tempo se tornaram amantes. Parecia ser uma relação bem abusiva, da parte dela. Ele escreveu um livro sobre ela, contando da vez que ela foi internada para tratar o vício em álcool. O livro dela sobre ele é bem enigmático, como tudo que ela escreveu. O amante é um livro "fácil" de ler, compreensível, os outros dela me encheram de dúvidas. Assim como seus filmes, menos o da Vera Baxter que me deixou irritada (acho que essa era a proposta dele, afinal).
Voltando a Ernaux, ela virou um fênomeno e ganhou um Nobel. Os livros dela vendem como água aqui no Brasil. Eu fico muito feliz de ver uma mulher ganhando um Nobel e tendo sua obra reconhecida, mesmo que tardiamente, mas talvez não seja para mim. O mais bizarro é que tinha tudo para ser, afinal eu amo ler uma mulher escrevendo sobre a sua própria vida.
Meus livros preferidos são quase sempre autobiográficos. Aliás, em novembro vai sair uma coletânea de contos e eu fui uma das autoras convidadas. Comecei a escrever algo de ficção, inspirada num fato da minha vida. Não consegui, era próximo demais, eu podia magoar pessoas. Apaguei tudo e escrevi uma ficção sobre a vida real em que eu não conseguia falar da vida real.
Gosto de filmes e escritos pessoais, eles me ajudam a pensar muito na minha escrita enquanto ficção, e nesses blogs e fotologs que eu escrevo desde que era adolescente. No auge dos blogs eu só lia, tinha vergonha de me expor. Aí me expus, recuei, agora falo de filmes e de livros falando de mim mesma. Algumas pessoas leem e gostam. Pelo amor de deus, não estou me comparando a Ernaux, Duras, quem quer que seja, só estou tentando entender porque a literatura da primeira não me agrada.
Se eu sigo lendo tudo dela que sai aqui, talvez os livros mexam comigo de alguma forma. Sinto uma coisa estranha de não gostar de algo que todo mundo gosta. Quando jovem, eu gostava de ser diferente, de odiar o que era popular. Hoje estou aqui feliz da vida depois de ter lido Os sete maridos de Evelyn Hugo. Inclusive, recomendo demais esse livro. Uma delicinha para quem ama Hollywood antiga e muito bom de ler.
![]() |
Bette Davis |
Falando em Hollywood, todos sabemos da obsessão pela juventude, de filmes com homens de mais de 50 anos namorando jovens de 20 e poucos. E quando a mulher envelhece, faz papel da velha maluca. Tem um gênero conhecido como Hagsploitation que é basicamente isso: uma velha maluca e maldosa criando o caos. O primeiro filme que me vem à mente é O que terá acontecido a Baby Jane? com a maravilhosa Bette Davis.
O que eu acho da escrita de Annie Ernaux? No fim das contas, não sei. Eu fico puta que as pessoas falem dela hoje em dia usando fotos de quando ela era jovem. A mulher está viva, veio pra Flip, andou naquelas porras daquelas pedras de Paraty, então para que usar foto do passado? É bom celebrar mulheres velhas nesse mundo cheio de padrões de juventude.
Comentário aleatório: sabe-se lá porque, mas eu caí numas fotos da Pamela Anderson atualmente. Ela envelheceu, tem linhas de expressão, rugas, não é mais jovem. E ela não tenta mascarar isso. Saí sem maquiagem e posa para fotos. Para quem cresceu nos anos 90, impossível não lembrar dela no visual Barbie.
![]() |
Pamela Anderson |
Eu passei a adolescência e parte da vida adulta usando sutiãs com bojo, usando maquiagem e tentando andar de salto. Hoje não uso nada que aperte meus peitos, tenho PAVOR da sensação de base na minha pele e nunca mais tentei andar de salto. Meu cabelo está repleto de fios brancos, e eu estou deixando crescer. Quero que saia a tinta preta para voltar a passar vermelho. Ou simplesmente deixar os brancos.