Peut-être qu'avec les remords, commence la liberté

Beau Travail

Dia desses P. me disse que tinha visto o filme Last Days do Gus Van Sant pela primeira vez. Contei para ela que foi graças a esse longa que Venus in Furs tinha se tornado a música da minha vida. Fiquei pensando em várias músicas que eu amo por causa de filmes. Pensei em escrever na newsletter sobre isso. Sim, ontem eu voltei com a newsletter. Senti falta de escrever aquela coisa meio blog anos 2000. Não que nesse blog eu não faça isso, mas aqui eu acabo escrevendo apenas quando bate uma inspiração de música, cinema e/ou livro. 

Uma das coisas que fiz também foi deletar meu last fm e as playlists que eu tinha no Spotify. Hoje voltei de um café com a V. e passei umas duas horas fazendo playlists novas. A ideia era fazer uma com as músicas dos meus filmes do coração. Não fiz essa, mas criei um monte aleatória com músicas que causam x ou y sentimento em mim. Agora estou ouvindo a que fiz com minhas músicas brasileiras preferidas, aquelas que eu adoraria ouvir num bar. 

Aproveitei hoje para rever Beau Travail da Claire Denis, porque mandei mais cedo para o A. a cena de abertura dele. Mulheres e soldados dançando a música do beijinho do Tarkan. Quem viveu o final dos anos 90 deve se lembrar dessa maravilha. Mandei para A. também a cena de abertura de La folie Almayer da Chantal Akerman, que tem um cara imitando o Dean Martin na maravilhosa Sway. Inclusive, descobri recentemente que as Pussycat Dolls fizeram um cover dela. 

La folie Almayer

Aí pensei em vir aqui no blog escrever sobre esses filmes e essas músicas, mas terminei o Beau Travail pensando em como as diretoras conseguem representar a masculinidade de uma forma muito interessante. Aqui quase não há mulheres, e quando elas aparecem estão vestidas, conversam entre elas. Os homens aparecem com shorts curtos e agarrados, há muito contato físico entre eles, abraços estranhos, danças e lutas corporais. 

A inveja e o ciúme pela atenção também estão ali. Há uma cena em que um homem é filmado de cima enquanto toma banho. Seu pênis aparece. Eu cresci vendo terror dos anos 80, então o que mais vi nessa vida foi peito. Então ainda me sinto meio surpresa quando aparece um pênis num filme que não há nada de erótico, não explicitamente, porque a tensão está em cada segundo desse trabalho da Denis. 

Mandei mensagem para o D. falando sobre como esse filme, The Power of the Dog e American Psycho retratam a masculinidade como poucos conseguiram. Eu queria rever o da Jane Campion para escrever, mas a ideia desse blog é justamente eu não ter que fazer nada obrigada, nem ter que me preparar para escrever. Quero apenas sentar aqui e digitar o que vier na minha mente. The Power of the Dog é um dos melhores filmes que já vi na vida, a maldade misturada com o tesão é enlouquecedora. 

The Power of the Dog

Eu acho que American Psycho é um dos filmes mais mal intepretados da história. Vejo um monte de incel considerando o protagonista como um herói, sendo que ele é um dos caras mais otários do planeta. Inclusive, foi dirigido por uma mulher (Mary Harron) e baseado em livro escrito por um homem que não se considera heterossexual (Bret Easton Ellis). Mesma coisa do lance dos red pills. A falta de inteligência é algo bastante engraçado. Ainda no tema desse texto, a trilha sonora desse filme também é sensacional. 

O último show que eu fui foi o do Sidney Magal e foi maravilhoso. Só tinha o povo animado e idosos. Coloquei uma música dele na playlist BR e lembrei que ela toca em Retratos Fantasmas, do Kleber Mendonça Filho. Sábado J. disse que não gostou tanto assim desse filme. Eu amei, amo histórias sobre cinema e como ele transforma a vida das pessoas. 

Agora que não tenho mais projetos, não tenho que ler nada por obrigação, nem ver, estou fazendo escolhas bem interessantes do que consumo. Me livrei de mais de metade da minha estante, estou assistindo meus DVDs e as coisas do Filmicca (afinal gastei com ambos). Estou amando rever filmes: Constantine, O Exorcista, O Iluminado, os do Romero. Eu ia rever todos os Jogos Mortais, mas não tankei.

Ah, lembrei de outra cena que amo: Rita Hayworth cantando Put the Blame on Mame em Gilda, um dos filmes do meu coração. Não gosto de musicais, só de Singing in the Rain e The Rocky Horror Picture Show, mas amo músicas bem encaixadas nos filmes. Lords of Salem do Rob Zombie é um filme ruim, mas a cena que toca All Tomorrow's Parties do The Velvet Underground é uma das mais lindas. Ah, quando toca 45 Grave em The Return of the Living Dead eu sempre abro um sorriso.

Peut-être qu'avec les remords, commence la liberté. Talvez a liberdade comece com o remorso, frase dita em Beau Travail.

Beau Travail


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